Queda de 9,4% no faturamento do comércio para o dia dos pais em todo o Brasil. Não se trata de pessimismo ou coisa parecida, mas sim de previsões estatísticas feitas pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com base em anos anteriores e projeções da crise econômica.

O Dia dos Pais é a quarta melhor data para o comércio brasileiro, depois do Natal, Dia das Mães e Dia da Criança. Mas, com o desemprego em alta e o crédito ao consumidor na casa dos 71%, vai ficar difícil comprar presentes este ano. Com base nas projeções para a data, a CNC estima queda de 3,7% no número de trabalhadores temporários contratados em relação ao ano passado. "É a crise afetando o varejo e cortando postos de trabalho. É o comércio naufragando lentamente e levando consigo a indústria brasileira. São milhares de pais de famílias que poderão engordar as filas do seguro desemprego, em breve", ressalta Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

Estudo divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) para as vendas no Dia dos Pais, em 14 de agosto, prevê queda no faturamento de 9,4% no país em comparação a igual período do ano passado, embora com um movimento de cerca de R$ 4,2 bilhões em vendas no varejo, em todo o país, o que equivale a 5,6% do faturamento esperado para o mês.

Esse será, segundo a CNC, o pior desempenho desde o início do estudo em 2004, quando as vendas subiram. O economista da CNC Fabio Bentes entende que a queda replica, de certa forma, o comportamento dos negócios nas últimas datas comemorativas: “É a segunda queda nas vendas da data. Na Páscoa foi assim, as vendas caíram pelo segundo ano consecutivo; no Dia das Mães, no Dia dos Namorados, o mesmo. O Dia dos Pais não vai ser diferente”.

 

Segmentos

O Dia dos Pais, segundo Bentes, movimenta dois setores importantes do varejo: alimentação, incluindo bebidas e alimentos e vestuário, que “estão passando por um momento muito ruim”, e explica: a alta no preço dos alimentos afugenta o consumidor e, no caso do vestuário, as vendas estão caindo de forma acelerada, atingindo 10% no ano. Assim, os dois principais segmentos de presentes para o Dia dos Pais também vão apresentar quedas: alimentos, quase 3% e vestuário, 9,5%.

“O varejo está passando ainda por uma crise muito forte, devido a preço de alimento muito alto e crédito caríssimo”, afirma o economista da CNC. Nos últimos 12 meses encerrados em junho, a taxa de juros ao consumidor bateu nove recordes de alta: “O consumidor está sem dinheiro no bolso e tomar dinheiro emprestado continua muito caro”.

A taxa de juros ao consumidor está em torno de 71% ao ano e nem mesmo o setor de perfumaria e cosméticos, que vinha relativamente bem no varejo, espera reação positiva das vendas. “Todos os segmentos vão registrar queda nesse Dia dos País”, afirma Bentes.

 

Renda baixa

Diante desse cenário, a CNC prevê que os filhos, na hora de buscar presentes para os pais, vão optar por um valor médio compatível com sua renda baixa. Segmentos de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos estão “fora do radar”, diz Bentes, e prevê que “As vendas vão cair na casa dos dois dígitos”.

O mesmo ocorre em parte do segmento de vestuário. Apesar das quedas recentes, esses dois segmentos vão responder por 56% das vendas para a data. Isso significa, conforme Fabio Bentes, que de cada R$ 100 que forem gastos pelos filhos com os pais, R$ 56 vão se dar nesses dois segmentos.

Outro termômetro que mostra como a data está ruim para o comércio é a contratação de funcionários temporários. A CNC estima queda de 3,7% no número de trabalhadores contratados em relação ao ano passado, menor resultado para a data desde 2012. Ainda assim, o economista diz que serão criados mais de 24 mil postos de trabalho temporário no país por causa da data, mas esclarece: “Parece um número muito bom mas, historicamente, a contratação de temporários é bem mais do que isso”.

O Dia dos Pais é a quarta melhor data para o comércio brasileiro, depois do Natal, Dia das Mães e Dia da Criança. Embora as vendas sempre cresçam em agosto, comparativamente a julho, a contratação de temporários é um sintoma de que o próprio lojista não está investindo muito na data e sabe, de modo geral, que o resultado vai ser negativo. A expectativa é que este ano as vendas aumentem 1,5% sobre o mês anterior, “mesmo com crise econômica”, porque se trata de um fator sazonal, na avaliação de Bentes.

O Dia dos Pais responde por mais de 6% do faturamento mensal do varejo, que contabiliza também venda de automóveis e material de construção, itens que não têm apelo com a data. “É uma data importante do varejo. Seria pior se não tivesse a data”, opina o economista.

 

Otimismo

Já o comércio lojista da cidade do Rio de Janeiro demonstra maior otimismo. A pesquisa Expectativa de Vendas para o Dia dos Pais, feita pelo Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDL Rio) com 500 lojistas, entre os dias 18 e 25 de julho, revela que a expectativa é vender mais 2,5% no Dia dos Pais, com tíquete médio por pessoa de R$ 100.

O presidente do CDL Rio, Aldo Gonçalves, avaliou, porém, que apesar da expectativa de incremento, os lojistas se mostram “moderadamente otimistas” e continuam preocupados com o atual momento da economia, recorrendo a ações para incentivar os consumidores a comprar, entre as quais promoções, descontos no total das compras e facilidades de pagamento.

De acordo com a pesquisa, os produtos mais vendidos no Rio de Janeiro no Dia dos Pais devem ser roupas, calçados, relógios, livros, celulares, artigos esportivos, perfumes, acessórios e vinho. As lojas localizadas na zona norte vão liderar as vendas, com 30,8% do total, seguidas do centro da cidade (26,9%).