Nem mesmo fechando as lojas mais cedo que o normal, o comércio de rua de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, está conseguindo sobreviver. São reflexos da crise econômica, que se alastra pelo país e deixa estragos para todos os lados.

O sindicato dos Comerciários do ABC aponta que só no primeiro semestre deste ano, foram homologadas 10.454 demissões. Até maio, as metalúrgicas da região demitiram 2.977 trabalhadores. "É o desemprego fazendo vítimas e retirando o pão de cada dia do trabalhador" resume Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

Quem caminha pela rua Marechal Deodoro, uma das principais vias do comércio de São Bernardo do Campo (ABC), logo percebe os atendentes de braços cruzados à espera de clientes. A situação do comércio reflete a crise econômica e, especialmente, as dificuldades pelas quais passa o setor industrial, uma das principais atividades do ABC.

Até maio, as metalúrgicas da região demitiram 2.977 trabalhadores. "E mesmo os que continuam trabalhando não se sentem seguros e ficam mais cautelosos, consumindo o estritamente necessário", afirma Valter Moura, presidente da Associação Comercial de São Bernardo do Campo.

Na loja de calçados Pixolé, o horário de funcionamento já foi reduzido das 19h30 para as 19h e o quadro de funcionários está 30% menor, segundo René José Machado, gerente da unidade. No Shopping Coração, o horário também teve redução: o fechamento, que era às 20h, passou para as 19h. Diversas lojas também encerraram as atividades.

O palestino Munir Shihadeh, que é comerciante há 40 anos e tem duas lojas no local, reclama da situação. "As vendas vêm caindo há algum tempo, mas, neste ano, foi demais. Hoje, por exemplo, vendi 25% do que costumava vender. Já ampliei a variedade de roupas, troquei fornecedores e fiz promoção para aumentar as vendas, mas as pessoas não estão comprando", diz.

Sua filha, Mirelle Sabrina Shihadeh, que o ajuda na loja, diz que nunca viu a cidade como está. Para se adaptar às dificuldades, foi preciso demitir seis funcionários. Segundo o Sindicato dos Comerciários do ABC, só no primeiro semestre deste ano, foram homologadas 10.454 demissões.

 

LOJAS FECHADAS

No primeiro semestre deste ano, 67,9 mil estabelecimentos fecharam as portas no país, de acordo com dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio). Com as dificuldades no setor, mais comerciantes avaliam essa possibilidade. Jadir Alves Junior é um deles. "No momento, estou pagando para trabalhar, vou esperar o final do ano para ver se recupero um pouco", afirma.

Valdir Duru entrou no setor em 2013 e não pretende desistir tão cedo. "Continuamos tentando, mas as contas são implacáveis e, em algum momento, teremos que tomar uma decisão", afirma.

Por enquanto, ele busca alternativas, como substituir as peças sofisticadas de decoração que vendia por opções mais acessíveis. "No final do ano, o comércio costuma melhorar. No ano passado já foi fraco. Vamos ver como será neste", avalia.

Para César Andaku, economista do Dieese, ainda é cedo para pensar em retomada, mas já é possível perceber o início de estabilização nos níveis de emprego.