Os pequenos provedores estão avançando no mercado que presta serviços de acesso à internet em banda larga fixa no Brasil. Do total de 4 mil provedores desse serviço, 20% são de grande porte e 80% são pequenas e médias empresas, as quais já respondem por 9% dos 20 milhões de pontos de acesso no país. Estão fora dessa conta as grandes operadoras de telefonia e TV por assinatura, que também oferecem banda larga.

Somente no ano passado, essas pequenas empresas aumentaram sua base de clientes em 33%, um ritmo duas vezes mais forte do que os 16% do segmento como um todo, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Apesar do potencial de avanço, a continuidade do crescimento do subsetor esbarra na dificuldade que os pequenos provedores têm em financiar seus projetos de expansão.

A principal barreira, segundo os empresários do setor, é que pedidos de empréstimos inferiores a R$ 10 milhões, que representam a média da demanda dos pequenos, devem ser requeridos junto a instituições financeiras parceiras do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas, essas instituições exigem garantias que os provedores não podem oferecer. Em um dos casos, um empresário disse ao Valor que um banco estadual, parceiro do BNDES, exigia garantias reais de 130% em relação ao pedido de financiamento, de R$ 2 milhões. O empréstimo não foi realizado.

Alan Fischler, assessor especial do BNDES, disse o setor é caracterizado por não ter muitos ativos, o que atrapalha no oferecimento de garantias. "O problema é que o potencial que os pequenos provedores têm é grande, mas o nível de investimento que querem fazer é incompatível com o tamanho deles", disse Fischler. Além disso, as garantias são definidas de acordo com a percepção de risco de cada instituição.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), os cerca de 3,2 mil pequenos e médios provedores faturam de R$ 720 mil a R$ 7,2 milhões por ano. É justamente desse grupo que surgem as demandas de recursos inferiores a R$ 10 milhões, por empresa. Os pedidos acabam sendo remetidos ao financiamento indireto, por meio de bancos comerciais e estaduais que atuam como intermediários do BNDES.

Os pequenos provedores levaram seus serviços para quase todo o território nacional - só não estão presentes em 23 municípios. Até agora, cresceram com recursos próprios, mas para uma nova etapa de expansão precisam de apoio financeiro. Porém, não conseguem atender aos requisitos dos bancos, disse o vice-presidente da Abrint, Erich Rodrigues. A associação, que tem aproximadamente 500 provedores associados, pede maior flexibilidade dos bancos, para que sejam aceitos recebíveis - contas a receber por vendas, ou contratos fechados - como garantia de financiamento. Essa já é a maneira como o BNDES financia as grandes empresas de telecomunicações.

Nos financiamentos diretos, feitos pelo BNDES, os recebíveis são uma das alternativas de garantia aceitas pela instituição, mas nas operações indiretas cabe a cada instituição financeira aceitar ou não. Executivos de pequenos provedores ouvidos pelo Valor reclamam de desconhecimento, tanto por parte de gerentes de bancos, quanto dos pequenos provedores, sobre essa possibilidade. O sócio da Desktop Sigmanet, Múcio Camargo de Assis Filho, está buscando financiamento de R$ 9 milhões desde o segundo semestre do ano passado, mas não consegue justamente por falta de garantias.

"Ir a agentes financeiros pedir financiamento é uma roleta russa, pois, principalmente no interior, é difícil encontrar um profissional engajado. Depois da entrega da documentação, o processo entra em um limbo, e não sabemos o posicionamento da instituição em relação ao pedido", afirmou. No caso da Desktop Sigmanet, os recursos seriam utilizados para incluir a oferta da IPTV (televisão interativa) no pacote de serviços da empresa.

Para Fischler, do BNDES, a solução para a manutenção no crescimento dos pequenos provedores é não depender exclusivamente da obtenção de financiamento. "Acho que essas empresas vão ter que se juntar. Em algum momento vai ter uma consolidação de mercado para criar empresas um pouco mais robustas e, eventualmente, vai ter que entrar algum investidor financeiro", disse.

"Nem todos os bancos têm traquejo com esse esquema de garantias, por isso pode haver desconhecimento" disse o assessor do banco de fomento.

O diretor de banda larga do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, disse ao Valor, por e-mail, que o ministério e BNDES chegaram à conclusão de que a solução ideal é que pequenos e médios provedores recorram à linha BNDES Automático, de financiamento indireto e que pode emprestar até R$ 20 milhões. Segundo Coimbra, ainda não houve pedidos a essa linha, possivelmente porque o trâmite ocorre nas instituições parceiras do banco de fomento. "O risco da operação não é um fator impeditivo, pois os pequenos provedores são empresas sólidas e com ótima capacidade de pagamento", afirmou por escrito.

Para divulgar melhor essas informações, o BNDES sugeriu a organização de eventos regionalizados para o setor.

Outra barreira para o crescimento dos pequenos provedores é a dificuldade em financiar fibra óptica. Essa tecnologia representa, em média, 23% do valor de um projeto padrão para levar a fibra até o domicílio do cliente, informou Coimbra, por e-mail. Segundo ele, são frequentemente cobradas altas taxas de juros nos empréstimos. Por isso, o BNDES afirmou que está analisando a inclusão da fibra no cadastro de itens financiáveis pela linha Finame.

Fischler, do BNDES, disse que o banco está ciente da questão que envolve também a fibra óptica e que está sendo providenciada uma solução para inclusão da Finame. O departamento de Banda Larga do ministério informou que busca solução efetiva para o gargalo nos financiamentos, pois entende que os pequenos provedores têm papel fundamental na oferta do serviço em áreas subatendidas por grandes operadoras.

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