Quando Edward Snowden revelou que a NSA espionava telefones de milhões de pessoas, membros do governo foram à imprensa tranquilizar o público: "Apenas metadados são coletados", disseram à época.

Um projeto conduzido por dois estudantes de doutorado de Stanford, porém, sugere que os tais metadados –registros telefônicos que contêm data, duração e número discado das chamadas –podem ser bastante reveladores.

Em quatro meses analisando apenas metadados telefônicos de 546 voluntários, Jonathan Meyer e Patrick Mutchler, que estudam ciência da computação, descobriram relacionamentos amorosos, doenças graves, uma gravidez indesejada e uma possível plantação caseira de maconha.

Para tanto, bastou que associassem os números para os quais os voluntários ligaram com empresas e organizações –tudo feito com ferramentas e listas telefônicas disponíveis de graça na rede.

"Fomos surpreendidos pelo quanto os contatos revelam. Participantes [do projeto] ligaram para os Alcoólicos Anônimos, lojas de armas, clínicas de aborto, sindicatos, advogados de divórcio, clínicas de doenças sexualmente transmissíveis, farmácias, clubes de strip-tease e muito mais", escreveu Meyer em seu blog, Web Policy.

O projeto, chamado MetaPhone, surgiu em novembro, justamente por conta das revelações de Snowden.

"A NSA levantou questões sérias sobre o quão sensíveis são os metadados telefônicos", disse Mayer à Folha, por e-mail. "Nosso objetivo é usar a ciência para responder a essas questões."

Para viabilizar a ideia, Mayer e Mutchler desenvolveram um app de Android, que recolhe metadados do celular, e convocaram voluntários.

Em duas semanas, já com centenas de participantes no projeto, viram que era possível descobrir quem estava ou não em um relacionamento amoroso com 60% a 80% de acertos. E que o número do parceiro(a) era o mais acionado em 60% desses casos.

Em seguida, derrubaram a ideia de que números de telefones são anônimos. Buscas na internet revelaram a pessoa ou empresa por trás de 91 dos 100 números testados.

Os resultados, dizem, servem de alerta."Os dados que analisamos são de centenas de usuários por vários meses. A NSA e as empresas de telefonia têm anos de registros de milhões de americanos", afirma Mayer.

 

Filipe Rocha/Editoria de Arte/Folhapress

 

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