Na frenética corrida por mais lucros e aproveitando o momento em que os canais digitais estão cada vez mais fazendo parte do dia a dia das pessoas, os bancos estão cortando custos e reduzindo seus quadros de funcionários de uma forma nunca vista antes. De janeiro a outubro deste ano os bancos cortaram mais de 10 mil postos de trabalho, 58,4% a mais que no mesmo período de 2015. Porém, até setembro os lucros dos cinco maiores bancos do país somaram quase R$ 43bilhões.

"Lamentavelmente da mesma forma como a tecnologia facilita nossas vidas, por outro lado ela acaba destruindo o sonho de emprego de milhões de trabalhadores. Se não bastasse isso, os banqueiros não perdem a oportunidade de engordar cada vez mais seus lucros. Num momento em que o país mais precisa da geração de novos empregos para impulsionar a economia e tirar o país da recessão, instituições bancárias vão na contramão da história e demitem sem nenhum remorso", explica Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

Em busca de maior eficiência, os bancos não desperdiçam a chance de cortar custos e, numa época em que os canais digitais de atendimento ganham cada vez mais espaço, o quadro de funcionários é o principal alvo das reduções de despesa. Até outubro, os bancos já cortaram 10.009 postos de trabalho, 58,4% a mais que no mesmo período de 2015. Por outro lado, os lucros das cinco maiores instituições financeiras somam quase R$ 43 bilhões até setembro — 21,6% menor que o acumulado nos três primeiros trimestre de 2015.

O número de vagas eliminadas em dez meses já supera o enxugamento de pessoal em todo o ano passado, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Já são cinco anos consecutivos de redução de postos no setor bancários (quando demissões superam admissões).

— Os bancos estão sofrendo uma pressão importante para a redução de custos operacionais. E as operações on-line ajudam a reduzir custos e aumentar a eficiência. Com a tecnologia de hoje, é fácil migrar um cliente da agência física, com aluguel e funcionário, para um sistema digital — disse Thiago Brehmer, sócio-diretor de Serviços Financeiros da Grant Thornton.

 

O corte de vagas, aliás, deve ganhar números mais expressivos com o programa de demissões voluntárias lançado pelo Banco do Brasil (BB). Até a semana passada, 7.760 funcionários já haviam aderido. A expectativa é que, até o prazo final de inscrição, no dia 9, entre 9.000 e dez mil tenham optado pelo PDV. O número representa quase 10% dos 112,7 mil trabalhadores do BB.

Outros eventos que tendem a intensificar os cortes são as fusões, como a compra do HSBC Brasil pelo Bradesco e a aquisição da área de varejo do Citibank pelo Itaú Unibanco. Com a digitalização, possível devido ao maior acesso à internet e popularização dos smartphones, a lógica é que são necessários menos funcionários e agências para atender o público.

— Existe certa sobreposição de agências (com o HSBC), mas o que vai determinar o enxugamento das agências é o balancete (a lucratividade). O que vemos é que o digital é um caminho sem volta — disse, em apresentação a investidores, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco.

 

EFEITO NA CAMPANHA SALARIAL

As entidades trabalhistas que representam os bancários reconhecem ser inevitável a eliminação de vagas com a migração das operações bancárias para os canais digitais.

— A digitalização leva a um enxugamento. Os bancos na campanha salarial resistiram e não deram aumento real. E por quê? Porque já estão adequando as estruturas a um cenário de maior participação de plataformas digitais — disse Roberto von der Osten, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf).

 

Os bancos públicos estão um pouco atrasados no processo de redução de vagas. Além do BB, maior banco e empregador do setor, a Caixa Econômica Federal já anunciou que lançará um plano de demissões em 2017.

Mesmo assim, devem continuar com mais funcionários do que o Itaú Unibanco, o maior banco privado do país, que em setembro tinha 81.737 funcionários. Desde a incorporação do Unibanco, no fim de 2008, o Itaú eliminou mais de 26 mil vagas — quase um Unibanco, que tinha 37 mil empregados quando foi comprado.

O principal instrumento do Itaú Unibanco hoje para implementar o ajuste de pessoal é o programa “Conectando Oportunidades”, lançado em 2008, mas que este ano passou a ser usado de forma mais intensa. Ao invés de ser demitido sumariamente, o funcionário ganha um prazo de 45 dias para tentar se realocar numa outra área.

 

IMPACTO DE PROCESSOS DE FUSÃO

O banco informou que cerca de 60% são realocados, mas sem revelar o número de trabalhadores que receberam o aviso de entrada no programa. Já o sindicato e os trabalhadores atingidos alegam que o processo não é simples e que há casos em que o candidato participa de mais de 50 processos de seleção interna, mas não é realocado. Em geral, são os funcionários de maior tempo de casa e salários.

Dados do Dieese mostram que, no setor bancário, as demissões se concentram nos funcionários com mais de dez anos de casa. Além disso, enquanto a média salarial dos admitidos é de R$ 4.370 para homens e R$ 3.123 para mulheres, a do salário dos demitidos é, respectivamente, de R$ 7.483 e R$ 5.360.

As entidades de trabalhadores têm especial atenção com processos de fusão. A integração do HSBC pelo Bradesco somou 21 mil funcionários ao quadro total de trabalhadores do banco que tem sede em Osasco. Segundo fontes, não há plano de um programa de demissões, mas contratações devem ser feitas apenas em casos específicos, já que o foco é acomodar o novo contingente. A expectativa é que a rotatividade natural da instituição faça com que, em três anos, esse excedente seja eliminado, já que as vagas não serão preenchidas.

O estímulo a uma maior digitalização de operações, e menor necessidade de funcionários, veio do Banco Central, que em abril divulgou resolução que autorizou os bancos a abrir e fechar contas apenas pela internet.

A autorização permitiu que o Banco Original, da holding J&F que controla a JBS, passasse a atender o público de varejo por meio de plataforma digital. Sem necessidade de agência para checagem de dados, é possível ter atuação nacional. Os bancos de varejo passaram a trabalhar com a criação de contas digitais.

A resolução permitiu que bancos que não tinham interesse em investir numa estrutura de varejo, que demanda gasto com aluguel, funcionários e segurança, mudassem de ideia. O banco de investimento BTG Pactual lançou o BTG Digital. A plataforma é especializada em investimentos. O objetivo é ter 10% das aplicações de clientes do varejo de alta renda, com carteira total em torno de R$ 650 bilhões investidos com a distribuição digital. A ideia é conquistar quem tem ao menos R$ 50 mil para investir, embora os fundos oferecidos aceitem aportes a partir de R$ 3 mil.

— Pelo celular o cliente vai poder aplicar e resgatar seus recursos — disse Roberto Sallouti, presidente do BTG Pactual.

 

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