Parece que Papai Noel ouviu os pedidos de milhões de brasileiros e já começou a distribuir as boas notícias. Uma delas é que a inflação poderá encerrar 2016 abaixo da meta estabelecida pelo governo. A outra é que a melhora nas expectativas inflacionárias abrirá espaço para que o Banco Central (BC) possa cortar juros no ano que vem e, assim, colaborar para a retomada da atividade econômica. Se as notícias do bom velhinho se confirmarem teremos um ano de recuperação, com cortes nas taxas de juros muito mais consistentes, ajudando a impulsionar a economia e diminuir o desemprego no país.

"Que sejam bem-vindas as boas notícias! O país precisa se recuperar de uma recessão que tem feito muitos estragos na economia. Milhões de pessoas perderam seus empregos e a renda do brasileiro despencou. O comércio e a indústria sofrem com a demanda reprimida do consumo. Inflação alta e juros estratosféricos fecham o ciclo perverso da crise. Portanto, as boas novas nos enchem de ânimo e esperança em 2017", conclui Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

O mercado financeiro voltou a apostar que a inflação encerrará 2016 abaixo do teto da meta estabelecida pelo governo. De acordo com os dados do Boletim Focus divulgado ontem, a mediana das projeções para a alta de preços neste ano caiu para 6,49%. A meta para o índice é 4,5%, com limite de tolerância de dois pontos para mais ou para menos. Para economistas, a melhora nas expectativas mostra que o Banco Central (BC) terá mais espaço para cortar juros no ano que vem e, assim, colaborar para a retomada da atividade econômica.

É a primeira vez, desde novembro de 2015, que os analistas consultados pelo BC preveem inflação dentro do limite de tolerância para este ano. Na semana passada, a expectativa era que o indicador encerrasse 2016 em 6,52%. A projeção foi revisada para baixo pela sexta semana consecutiva.

Para a economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a melhora nas projeções mostra que a economia brasileira está voltando a funcionar como especialistas esperavam e que a recessão assumiu o papel de amenizar a escalada de preços, como manda a teoria:

— Agora, os modelos macroeconômicos estão voltando a funcionar, a recessão está levando à desaceleração da inflação.

 

José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários, avalia que a nova revisão do Focus tem pouca influência sobre uma trajetória de inflação que ele já considerava benigna. Para Senna, a nova administração do BC conquistou credibilidade e abriu espaço para cortes maiores na taxa de juros. Ele não descarta uma redução de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), marcada para fevereiro. A autoridade monetária começou a cortar a Selic em outubro. Desde então, fez duas reduções de 0,25 ponto, levando a taxa aos atuais 13,75% ao ano.

— Muito mais relevante que saber se a inflação vai ser 6,52% ou 6,48% é reconhecer que o Banco Central abriu espaço para flexibilizar a política monetária, o que, nas condições vigentes há seis meses, era impossível. Se nada de muito relevante acontecer para pior, esperamos 0,5 ponto percentual de queda. E, diria, com chance até de ser um pouco mais, 0,75 ponto, embora não ache que essa seja a probabilidade maior — analisa Senna.

 

MEIRELLES VÊ RECUPERAÇÃO

O economista Fernando de Holanda Barbosa, professor da FGV, defende uma atitude mais drástica do Banco Central: reduzir a Selic em 3 pontos percentuais até junho. Isso significaria cortar a taxa em 1 ponto percentual nas próximas três reuniões do Copom. Na avaliação de Barbosa, especialista em mercado de trabalho, a medida ajudaria a começar a diminuir o desemprego a partir do fim do ano que vem:

— Nós temos um problema sério de desemprego extremamente elevado e capacidade ociosa muito grande. Essa recuperação da economia iria resolver vários problemas sociais. O BC já ganhou essa credibilidade, caberia um movimento mais agressivo.

 

Já o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, pondera que o corte de juros não é suficiente para fazer o país crescer de forma sustentável:

— Põe-se um peso demasiado em temas macroeconômicos, como juros e câmbio, que eles não têm na realidade. A capacidade de juros e câmbio influenciarem a economia é bastante baixa. Não são instrumentos de crescimento.

 

Na avaliação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, essa recuperação aguardada por analistas está cada vez mais clara. Ele reconheceu, no entanto, que o crescimento médio de 2017 ainda será fraco. Ontem, o Focus revisou para baixo a projeção para a alta do PIB no ano que vem, de 0,7% para 0,58%.

— É um processo normal. É a maior crise da história do Brasil. Não podemos subestimar isso — disse Meirelles após participar de evento na Ilha Fiscal, no Rio. — A boa notícia é que as medidas estão sendo aprovadas. Isso é o mais importante.

 

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