Com a crise econômica comendo a solta, escalada do desemprego e a inflação corroendo o bolso dos brasileiros, não existiu outra saída a não ser a de sacar o que restou na poupança. E foi exatamente isso que a maioria das pessoas fizeram durante o ano de 2016, para poderem conseguir sobreviver e pagar as contas do mês. Os saques da poupança superaram os depósitos em mais de 40 bilhões de reais. Os saques totalizaram R$ 1, 989 trilhão e, os depósitos, R$ 1, 948 trilhão.

"É lamentável que o último quinhãozinho entre no orçamento para saldar compromissos do mês. Mas esse é o reflexo perverso de uma economia em recessão, que faz as pessoas lançar mão daquele dinheirinho que seria usado para dar um pouco mais de conforto para a família. Em resumo, é a raspa do tacho para o bem da sobrevivência", observa Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

Os saques da poupança superaram os depósitos em R$ 40,7 bilhões em 2016, informou nesta quinta-feira (5) o Banco Central. O resultado é o segundo pior da série histórica, que começa em 1995, atrás apenas de 2015, quando saíram da poupança R$ 53,5 bilhões.

Além disso, foi o segundo ano seguido em que a poupança perdeu recursos - entre 2006 e 2014, os depósitos superaram os saques das cadernetas.

De acordo com o Banco Central, durante todo o ano de 2016 os saques da poupança totalizaram R$ 1, 989 trilhão e, os depósitos, R$ 1, 948 trilhão.

Essa fuga de recursos da poupança está relacionada principalmente à crise econômica e à inflação. Com a crise, e o conseqüente aumento do desemprego, muitas famílias precisam usar o dinheiro mantido na poupança para cobrir suas despesas. Já a inflação, que apenas entre janeiro e novembro de 2016 acumulou alta de 5,97%, reduz o rendimento das cadernetas.

Quando a taxa básica de juros, a Selic, está acima de 8,5% ao ano, como ocorre atualmente, o rendimento da poupança fica limitado em 6,17% ao ano, mais a variação da Taxa Referencial (TR). Por conta disso, investidores têm transferido seus recursos opções mais rentáveis.

 

Dezembro e estoque

Apesar do resultado negativo no ano, no mês de dezembro houve mais depósitos do que saques da poupança. Foi o segundo mês seguido em que isso ocorreu. Desde o final de 2014 que a poupança não registrava dois meses seguidos de resultado positivo.

No mês passado, os depósitos superaram os saques em R$ 10,7 bilhões.

Apesar da fuga, o estoque da poupança, ou seja, o volume total de recursos investidos, aumentou em 2016 e fechou o ano em R$ 664,9 bilhões. Ao final de 2015, o estoque totalizava R$ 656,5 bilhões. Isso se deve ao acréscimo dos rendimentos ao longo do ano passado.