Queda no consumo, desemprego e juro alto puxaram os preços para baixo e fizeram da inflação de janeiro a menor taxa para o mês da série histórica iniciada em 1994. Apesar de ter sofrido pressões de itens como saúde e educação no acumulado dos últimos 12 meses, a inflação tem dado sinais de desaceleração. Ainda não é o melhor resultado que temos, mas já é um claro sinal de que a economia está voltando, devagarzinho, aos trilhos.

O resultado da inflação de janeiro confirmou a tendência de desaceleração da alta de preços do fim do ano passado e abre espaço até para um corte de um ponto percentual da taxa de juros nas próximas reuniões do Copom.

O processo de queda da inflação no Brasil tende a ser de forma gradativa. Trazê-la de volta para patamares aceitáveis no curto prazo, só será possível mediante a volta do crescimento da economia e depois de aprovadas às reformas propostas pelo governo. Além disso, o Brasil precisa estar menos vulnerável a choques externos que influenciam os preços internamente. Somente assim serão criadas as condições básicas para a queda eficaz da inflação.

"É preciso muita calma nessa hora! Tem que ser um passo de cada vez e muito bem dosado. Qualquer erro poderá significar a volta de uma inflação maior e mais destrutiva. Precisamos de um crescimento sustentável e vigoroso, que permita criar condições para a volta dos investimentos e do pleno emprego", assinala Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

A inflação oficial medida pelo IBGE registrou alta de 0,38% em janeiro, a menor taxa para o mês da série histórica, iniciada em 1994, e caiu para 5,35% no acumulado em 12 meses, menor taxa nessa comparação desde setembro de 2012, quando ficou em 5,28%. A previsão dos analistas ouvidos pela Bloomberg era de alta de 0,42% em relação a dezembro e de 5,4% no acumulado em 12 meses. Em 2016, a inflação havia começado o ano acelerando para 1,27%. E, em dezembro do ano passado, ficou em 0,3%, o menor patamar para o mês desde 2008. Com isso, o indicador fechou o ano de 2016 em 6,29%, a mais baixa inflação desde 2013.

— A inflação está desacelerando porque o consumo está retraído devido ao desemprego e às altas taxas de juros. No resultado acumulado em 12 meses, planos de saúde e gastos com educação têm pressionado a taxa porque são dois itens com preços indexados — avalia Eulina Nunes, coordenadora do Índice de Preços do IBGE.

As tarifas dos ônibus urbanos, que subiram 2,84% no mês, lideraram o ranking dos principais impactos individuais na taxa geral, com 0,07 ponto percentual de impacto. Importante na despesa do consumidor, os ônibus urbanos têm expressiva participação de 2,61% na formação do IPCA. Com isto, o grupo transportes apresentou a mais elevada variação de grupo, alta de 0,77%.

Os combustíveis, com alta de 1,28%, também pressionaram as despesas com transporte, já que o litro do etanol subiu 3,1%, com destaque para Campo Grande (6,12%); enquanto o litro da gasolina subiu 0,84%. Mesmo assim, transporte, apesar da variação de grupo mais elevada, apresentou forte desaceleração na taxa de crescimento de preços de dezembro para janeiro, ao passar de 1,11% para 0,77%. Isto se deve, principalmente, às passagens aéreas, que passaram de 26,29% em dezembro para -7,36% em janeiro.

— As passagens aéreas caíram em janeiro e também os preços dos produtos relacionados ao crédito e à retração do consumo, como TV, som e informática, além de roupa feminina, por conta das liquidações pós natal, foram outros itens que influenciaram para baixo a taxa geral de janeiro —ressalta a coordenadora do IBGE.

A alta de 0,80% dos preços monitorados, que aceleraram em relação à dezembro (-0,01%), é pontual, explica Eulina, pois os reajustes de tarifas de ônibus estão concentradas no mês de janeiro.

 

ALIMENTOS E HABITAÇÃO PESARAM MAIS NA TAXA DE JANEIRO

No entanto, os grupos que mais contribuíram para a taxa do mês foram alimentação e bebidas, que foram de 0,08% em dezembro para 0,35% em janeiro, e habitação, de -0,59% para 0,17% no mesmo período. No primeiro, a alimentação consumida fora de casa passou de 0,33% para 0,69%, sendo que os alimentos para consumo em casa foram de -0,05% para 0,17%. Nos alimentos, alguns ficaram bem mais baratos, a exemplo do feijão-carioca (-13,58%), enquanto outros, como o óleo de soja (7,66%), subiram.

— Os dois últimos anos foram muito afetados pelo El Niño, o que prejudicou as lavouras. Em 2017, choveu em algumas regiões em janeiro, mas de forma mais moderada. Isso aliado à forte redução do consumo fez com que os preços dos alimentos crescessem menos em janeiro deste ano, em relação aos dois anos anteriores — explica Eulina.

No grupo habitação, a queda nas contas de energia elétrica foi menos intensa. Em dezembro, as contas ficaram 3,7% mais baratas, o principal impacto para baixo. Isto devido ao fim da cobrança do adicional de R$ 1,50 referente à bandeira amarela. Em janeiro, a queda foi de 0,6% e se deve à redução do PIS/COFINS na maioria das regiões pesquisadas. Do lado das altas, destaca-se, em habitação, a taxa de água e esgoto, cuja variação de 0,61% se refere a Campo Grande (7,37%) e ao Rio de Janeiro (5,12%), com reajuste de 7,13% em primeiro de janeiro.

Nos demais grupos sobressaem, em alta, os seguintes itens: excursão (2,51%), leitura (2,27%) e telefone celular(1,67%). Os artigos de residência (-0,10%) e de vestuário (-0,36%) foram os dois grupos que apresentaram queda no índice do mês.

 

NO RIO, INFLAÇÃO ACELERA

Olhando por região, a inflação mais elevada foi registrada em Brasília (0,72%), onde o item ônibus urbano apresentou alta de 14,75% refletindo o reajuste de 25% que vigorou de 2 a 18 de janeiro, quando foi interrompido e voltou a ser cobrado em 28 de janeiro. O menor índice foi o da região metropolitana de Porto Alegre (0,18%). No Rio, o IPCA acelerou de 0,25% em dezembro para 0,40 em janeiro. Em 12 meses, a inflação no Rio acumula taxa inferior à nacional, de 4,84%.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), indicador usado como prévia da inflação, havia acelerada para 0,31% até medos de janeiro, após registrar aumento de 0,19% um mês antes. Apesar disso, o índice foi o mais baixo para janeiro desde 1994, quando foi criado o Plano Real e foi mais suave que o projetado para este início de ano. Em 12 meses, houve aumento de 5,94%, inferior à taxa apurada nos 12 meses imediatamente anteriores, de 6,58%.

 

INFLAÇÃO EM JANEIRO ABRE ESPAÇO ATÉ PARA CORTE DE 1% DOS JUROS

O resultado da inflação de janeiro, o menor para o mês desde 1994, confirmou a tendência de desaceleração da alta de preços do fim do ano passado e abre espaço até para um corte de um ponto percentual da taxa de juros, avalia o economista da LCA Consultores Fabio Romão. Segundo ele, o cenário mais provável ainda é de corte de 0,75 ponto percentual da taxa Selic — atualmente em 13% ao ano — na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), mas uma redução maior não pode ser descartada.

— A desaceleração da inflação em doze meses é um movimento que têm folego pelo menos até meados do ano. E deve chegar aos 4%. Nosso cenário para Selic é de mais dois cortes de 75 pontos básicos, para chegar a 9,5% no fim do ano, não dá para descartar uma redução maior, de 1 ponto percentual. Não é o mais provável, mas temos uma grande janela de oportunidade — afirma o economista.

Um dos sinais desse movimento, segundo ele, é a desaceleração dos chamados núcleos da inflação, ou seja, os cálculos que excluem efeitos extraordinários e sazonais. A média dos núcleos caiu de 0,88% em janeiro de 2016 para 0,40% em janeiro de 2017.

— Quando se olha para a média dos núcleos, e Banco Central olha isso, é indiscutível o quanto a inflação desacelerou. (...) É uma grande oportunidade para estimular a economia sem afetar a inflação. E fica evidente que a preocupação do BC com a atividade econômica ganhou peso recentemente.

 

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