Para a canalhice não existe limites. Nem mesmo depois do início das investigações da Lava Jato, entre 2005 e 2015, políticos de vários partidos deixaram de fazer falcatruas no âmbito dos negócios escusos com as empreiteiras. Ex-executivos da Odebrecht contaram em suas delações que pagaram propinas e fizeram doações ilegais para favorecer a empresa na aprovação de leis no Congresso Nacional. Ou seja, compraram parte do Congresso!

Era uma verdadeira farra de compra de medidas provisórias, com somas capaz de assustar muita gente graúda. O valor pago pelo "setor de propinas" da Odebrecht entre 2006 e 2014 à classe política superou o PIB (Produto Interno Bruto) de 33 de 217 países listados em um ranking do Banco Mundial a partir de dados do FMI (Fundo Monetário Internacional). Ao todo, o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido na empreiteira como o departamento em que as propinas eram pagas, movimentou aproximadamente US$ 3,37 bilhões -o equivalente a R$ 10,6 bilhões -.

Eram quantidades de dinheiro que cabiam em malas, malotes, sacolas, carros fortes, aviões, locomotivas, navios ou, até mesmo em cuecas, se fosse o caso. Tinha de todos os valores e para qualquer político que estivesse à venda, era só combinar o preço a ser pago. Nunca na história deste país assistimos a tanta roubalheira e tanta cara de pau. Chegamos ao ponto de o presidente da Odebrecht, na maior normalidade possível perante a nação, escancarar o verbo e contar com detalhes como eram combinadas as falcatruas com os políticos e como eram realizados os pagamentos. Marcelo Odebrecht foi mais além e disse em um de seus depoimentos que no Brasil ninguém se elege sem caixa dois e que aqui não existe político honesto.

"Sábias palavras do empreiteiro. De fato, se levarmos a sério e formos pesquisar a biografia de nossos políticos, vamos perceber que são pouquíssimos os que se salvam. É bom nem aventarmos essa possibilidade para não ficarmos ainda mais decepcionados, além do que já estamos. Deixa quieto que a resposta virá através das urnas em 2018", sentencia Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

Ex-executivos da Odebrecht contaram ao Ministério Público que pagaram propina, fizeram doações oficiais ou por meio de caixa dois para favorecer a empresa com a aprovação de leis no Congresso. A prática, segundo os delatores, continuou mesmo depois do início das investigações da Operação Lava Jato. Entre 2005 e 2015, a empreiteira pagou para influenciar pelo menos 20 atos do Legislativo, como a aprovação de medidas provisórias.

Em seu depoimento, o ex-diretor Cláudio Melo Filho disse que a contribuição para o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), na campanha de 2014, era, em parte, “contrapartida para o forte apoio (de seu pai, o então presidente do Senado, Renan Calheiros) à renovação dos contratos de energia, que culminou na edição” da MP 677, já em 2015.

Cláudio disse que participou de reunião na residência oficial da presidência do Senado durante o trâmite da medida provisória “para reforçar a importância do tema para a empresa”.

Segundo o delator, enquanto ele fazia a interlocução com o Congresso, cabia ao presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, articular com o Executivo por meio, principalmente, dos ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Antonio Palocci.

O grupo tentava influenciar a elaboração de normas ligadas à tributação e à renegociação de dívidas com o governo. Cláudio Melo disse ter repassado R$ 22 milhões a Renan e ao seu sucessor, Eunício Oliveira (PMDB-CE), entre 2005 e 2015, para aprovar medidas de interesse do grupo. Renan era chamado por ele de “resolver da República no Congresso” devido à sua eficiência.

“Você aprovava uma coisa no Ministério da Fazenda e aí ia pro Congresso. Quando o pessoal no Congresso percebia que tinha interesse das empresas por trás, você sempre tinha que assumir um compromisso”, disse Odebrecht aos investigadores.

O delator afirmou, ainda, que pagou para o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e para o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entre outros, para “comprar” e acompanhar a MP 613, de 2013.

A medida provisória criou o programa que desonerou a compra de matérias primas por indústrias químicas, atendendo a interesses da Braskem. Todos os acusados negam ter recebido dinheiro de origem ilícita da empresa ou ter atuado para favorecer o grupo no Congresso.

 

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