Sorrateiramente ela vem comendo o salário mensal do trabalhador. A cada mês que passa sentimos o quanto fica mais complicado pagar nossas contas e fazer as compras do mês com o que sobra do nosso salário mensal. É realmente uma equação difícil de resolver, até porque dinheiro não estica e não da para fazer milagres. Mas essa praga tem nome: chama-se inflação.

Em julho a inflação medida pelo IPCA, acelerou para 0,52%, com alta de 8,74% em 12 meses, segundo o IBGE. Alimentação e bebidas foi o grupo que mais contribuiu para o aumento de preços (65%). "A situação é a pior que se tem notícia na história deste país. O brasileiro hoje já não sabe mais se no próximo mês vai ter o suficiente para comer e honrar seus compromissos", desabafa Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, atingiu 0,52% em julho. No mês anterior, o IPCA havia chegado a 0,35%, segundo informou nesta quarta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com este resultado, o acumulado no ano foi para 4,96%, menor que os 6,83% registrados em igual período do ano anterior. Considerando os últimos 12 meses, o índice é de 8,74%, pouco abaixo dos 8,84% relativos aos 12 meses imediatamente anteriores. Em julho de 2015, o IPCA registrou 0,62%.

De acordo com Eulina Nunes, coordenadora de índices de preços do IBGE, a “culpa” de a inflação voltar a ganhar força em julho é “especialmente” do feijão e do leite. “Na verdade, os alimentos aumentaram muito e vários, mas o feijão e o leite se destacaram”, disse.

Eulina diz que a taxa de inflação poderia ser ainda maior se a demanda não estivesse reduzida, levando em conta tanto a pressão dos alimentos como o aumento dos custos e a volatividade do dólar que atinge vários setores e bens adquiridos em geral. “Considerando que o país está vivendo retração no consumo e desemprego, os resultados do índice acelerando mostram que, apesar da redução da demanda, existem custos que estão pressionando os resultados", diz.

 

Recorde de alimentos e bebidas

Com 65% de participação no IPCA do mês, o grupo alimentação e bebidas registrou a mais elevada variação para os meses de julho desde 2000, quando a alta atingiu 1,78%. Em julho de 2016, inflação de alimentos e bebidas chegou a 1,32%.

Em julho, o leite foi a principal contribuição individual na inflação do mês, com aumento de 17,58%. Em segundo lugar, destacou-se o feijão, com alta de 32,42%, informou o IBGE. O arroz também mostrou aumento de 4,68% na média. "Com isto, o feijão com arroz, prato típico da mesa do brasileiro, passou a custar bem mais", analisou o instituto.

“Mas não só o arroz com feijão, a gente tem aumento nos ovos, no pão, farinha de trigo, no frango”, disse Eulina.

Segundo ela, em geral, no mês de julho, os alimentos tendem a puxar as taxas do IPCA para baixo. "É período de oferta maior de alimentos, o que faz com que os preços se estabilizem ou até se reduzam. Neste mês de julho, especialmente, a taxa dos alimentos foi para 1,32% por função de problemas climáticos que afetaram as lavouras. É menor oferta de forma geral provocada pelo clima”, explicou.

“O feijão carioca é o mais consumido [no país], e ele está pressionando os outros também porque as pessoas estão optando por outros tipos de feijão porque ele está muito caro”, diz Eulina.

Eulina explica que o preço do feijão sobe por escassez de oferta. "Chuva na época de plantio, seca quando estava mais para frente, que acabou com as lavouras em abril mais ou menos, e teve frio, geada, porque o Paraná é o principal produtor do feijão”.

No caso do leite, Eulina afirmou que o motivo de o preço estar mais caro também é a escassez provocada por questões climáticas.

A coordenadora explicou ainda que o leite tem mais peso que o feijão sobre o total da inflação. Por isso que mesmo com variação menor do que a feijão, o leite foi o primeiro no ranking de maior impacto no IPCA do mês de julho.

 

 

Por regiões

A maioria das regiões pesquisadas pelo IBGE ficou acima do IPCA geral, segundo Eulina, e apresentou aceleração na taxa de um mês para outro, com exceção de São Paulo, devido à queda no preço da energia elétrica.

"O que se traduz que [a região metropolina de] São Paulo foi muito importante no sentido de contribuir na contenção da taxa do mês de julho. Energia elétrica tem peso muito grande no orçamento das famílias, e apresentando redução em algumas regiões, entre elas, São Paulo, levou o resultado do grupo [habitação]. Quer dizer, as despesas de moradia ficaram um pouco mais baratas de junho para julho”, diz a coordenadora de índices de preços.

 

Mais baratos

Entre os produtos que ficaram mais baratos de um mês para o outro, destacam-se a cebola, com -28,37% e a batata-inglesa, cujos preços caíram 20%.

Eulina Nunes ressaltou que a carne também está na contramão dos aumentos e não vem causando pressão sobre a inflação. A redução foi de 0,69% no mês.

“As pastagens estão ruins, custo de produção aumentando muito e aí estão muitos deles abatendo o gado e tem maior oferta no mercado e o preço cai. Então, não está havendo pressão forte da carne. O preço da carne não vem subindo”.

Outros que caíram foram cenoura (-13,4%), hortaliças (5,65%), frutas (-3,28%), óleo de soja (-2,06%) e pescado (-0,63%).

Fora dos alimentos, também tiveram queda de preços energia elétrica residencial (-3,04%), seguro de veículo (-1,13%), roupa feminina (-1,1%), automóvel novo (-0,67%), etanol (-0,49%) e gasolina (-0,39%).

 

Outras altas

Além dos alimentos, outros três grupos mostraram aceleração na taxa de crescimento de um mês para o outro: despesas pessoais (de 0,35% para 0,7%), artigos de residência (de 0,26% para 0,53%) e transportes (de -0,53% para 0,4%).

Nos transportes, grupo de maior peso no orçamento das famílias depois dos alimentos, as pressões foram exercidas pelos seguintes itens: passagem aérea: 19,22%, ônibus interestadual: 8,21%, pedágio: 3,99%, ônibus intermunicipal: 0,81%, emplacamento e licença: 0,79% e conserto de automóvel: 0,58%.

Segundo o IBGE, no caso das tarifas de ônibus interestadual, o aumento de 8,21% é decorrência do reajuste de 9,04%, que entrou em vigor a partir do dia 1º de julho.

 

Previsão do mercado

A previsão do mercado financeiro para o IPCA deste ano é de 7,2%, segundo o boletim do Banco Central mais recente. A estimativa permanece acima do teto de 6,5% do sistema de metas e bem distante do objetivo central de 4,5% fixado para 2016.

 

INPC

O IBGE também divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que variou 0,64%, depois de avançar 0,47% em junho. No ano, o índice acumula alta de 5,76% e, em 12 meses, de 9,56%. Em julho de 2015, o INPC ficou em 0,58%.

 

PRINCIPAIS ALTAS (variação de preços, em julho e no ano, em %):

Feijão-preto - 41,59 e 84,69
Feijão-carioca - 32,42 e 150,61
Feijão-mulatinho - 18,89 e 119,22
Leite longa vida - 17,58 e 48,98
Feijão-fradinho - 14,72 e 41,88
Leite condensado - 9,87 e 27,03
Fubá de milho - 7,11 e 25,49
Manteiga - 5,72 e 52,05
Leite em pó - 5,26 e 12,34
Arroz - 4,68 e 11,11
Bolo - 3,97 e 9,37
Ovos - 3,87 e 15,54
Alho - 3,54 e 40,96
Chocolate em barra e bombom - 3,48 e 19,04
Açúcar refinado - 3,38 e 19,25
Cafezinho - 2,52 e 9,61
Queijo - 2,34 e 8,58
Café da manhã - 2,32 e 6,42
Chocolate e achocolatado em pó - 1,92 e 11,29
Açúcar cristal - 1,69 e 15,87
Margarina - 1,44 e 11,65
Refrigerante - 1,29 e 6,77
Pão francês - 1,18 e 5,19
Macarrão - 1,05 e 6,96
Farinha de trigo - 1 e 5,11
Frango inteiro - 0,91 e 0,6
Café moído - 0,90 e 11,04
Iogurte - 0,89 e 10,17
Farinha de mandioca - 0,85 e 36,52
Carnes industrializadas - 0,74 e 4,26
Lanche fora - 0,72 e 6,91
Biscoito - 0,51 e 5,92

 

 

Go to top
JSN Boot template designed by JoomlaShine.com