"Uma triste realidade tomou conta do dia a dia dos brasileiros. Sem poder contar com um plano de saúde por ter perdido o emprego, reflexo da crise econômica, brasileiros e brasileiras tem buscado alternativas de socorro nas clínicas populares que avançam por todo o país. Muita gente tem preferido pagar, mesmo que sacrificando o pouco que restou, do que se submeter ao precário atendimento dispensado a população pelo SUS. O governo federal tenta, inventa e quer até ressuscitar a CPMF, como forma de financiamento para a saúde. Mas o fato é que não consegue dar ao povo o que lhes é de direito, bons hospitais e um atendimento de qualidade. Paga-se muito imposto e recebe-se quase nada em troca, diz Canindé Pegado, presidente do SINCAB".

Pela primeira vez em dez anos, o mercado brasileiro de planos de saúde fechou em retração. Em 2015, houve debandada de cerca de 766 mil beneficiários, reflexo direto da crise econômica e do aumento do desemprego. Esse movimento, no entanto, tem servido de combustível para outro segmento, o de clínicas populares, que está em plena expansão no País.

Nos últimos meses, sobretudo de setembro do ano passado para cá, empresas como Dr. Consulta, MinutoMed e Acesso Saúde, conhecidas por cobrarem no máximo R$ 120 por consulta médica, registraram crescimento de cerca de 40% na procura pelo serviço.

Para dar conta da demanda, a Dr. Consulta, que atende em média 25 mil pacientes por mês em 11 endereços na Grande São Paulo, vai inaugurar até o fim do ano outras 19 unidades. A empresa reservou R$ 40 milhões para esse crescimento, dinheiro que é fruto do investimento, feito no ano passado, de dois fundos, o Kaszek Ventures, comandado pelos fundadores do Mercado Livre, e o suíço LGT Venture Philanthropy, especializado em negócios de impacto social. “A demanda está alta. Vamos utilizar todo o aporte em nosso crescimento”, conta o médico e economista Marcos Fumio, sócio da Dr. Consulta.

De acordo com os empresários, a escalada do desemprego reforçou o aumento da procura pelo serviço. “As pessoas não querem ir para o SUS”, diz Antônio Carlos Brasil, da Acesso Saúde, que hoje tem 13 clínicas no Brasil e vai inaugurar outras 18 até dezembro. “A gente nota que a maioria desses novos pacientes tinha convênios médicos, mas perderam o plano de saúde junto com o seus empregos.”

Os números oficiais endossam a percepção dos empreendedores. Nos dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) na semana passada, os contratos coletivos, aqueles oferecidos por empresas e associações como benefício aos funcionários, foram os mais afetados, com 533.534 distratos ao longo de 2015 – responsável por quase 70% da debandada no setor.

“Não há como desassociar essa queda da atual crise econômica do País. Segundo dados do Caged, o Brasil fechou 2015 com perda de 1,5 milhão de postos de trabalho com registro em carteira”, diz o superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Complementar (Iess) Luiz Augusto Carneiro.

Foi justamente após perder o emprego, em agosto do ano passado, que a operadora de turismo Gizella Flor Batistela se viu atrás de uma consulta médica particular. “Fiquei sem convênio e precisei ir ao dermatologista. Mas nem tentei o SUS, acho que demora muito”, conta ela, enquanto esperava o orçamento para um hemograma completo em uma clínica popular. “Eles querem me cobrar uns R$ 200 pelo exame. Sinceramente, achei um pouco caro, vou pesquisar em outras redes. A gente agora vê um monte delas por ai”, afirma.

 

 

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