É muito comum sair na rua e dar de cara com vitrines chamativas oferecendo roupas, sapatos, perfumes, celulares, etc. O problema é que nem sempre as pessoas conseguem resistir e acabam comprando e se endividando até o pescoço. Muitas vezes a empolgação reside no fato de certas lojas oferecerem produtos com parcelamento a perder de vista, que na realidade acabam se tornando num pesadelo futuro. Diante da tentação e das facilidades - e muitas vezes nem estar precisando daquele mimo - os consumidores não resistem e se enfiam num turbilhão de prestações.

Num país com uma economia em crise e que hoje tem mais de 12 milhões de desempregados, é preciso que o cidadão tenha muita calma quando estiver sendo assediado por vitrines maravilhosas. Porque em toda e qualquer compra parcelada existem juros altíssimos embutidos sem que o consumidor perceba. São esses juros altos que fazem milhões de pessoas caírem na inadimplência que assola o país. Hoje no Brasil temos quase 60 milhões de inadimplentes.

"Portanto é preciso cuidado, porque com a recessão instalada e sem uma perspectiva futura de mudança no rumo da economia, com desemprego em massa, inflação alta, juros altos e renda em baixa, o consumidor ficará sempre muito vulnerável", alerta Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

Parcelar em 10 vezes sem juros é uma boa ideia? Se a compra não tem desconto à vista, como muitas vezes ocorre, deixar de pagar de uma vez para dividir o mesmo valor em dez vezes parece lógico do ponto de vista das finanças.

Mas esse raciocínio só vale para quem tem dinheiro investido, afirma André Crepaldi, planejador financeiro da Gaia Finanças Pessoais. "Desse modo, a pessoa paga parcela e ainda mantém o dinheiro rendendo juros", diz.

Esse comportamento, porém, é exceção. O perigo de dividir em muitas parcelas é esquecer que elas existem e passar a fazer mais compras parceladas, até que a soma atinja um valor que prejudique todo o orçamento.

"As pessoas tendem a enxergar só o valor de uma parcela, e esquecer quanto do orçamento já está comprometido com as outras", diz Crepaldi.

O consultor explica como funciona. Suponha que a folga orçamentária da pessoa seja de R$ 300. No primeiro mês ela faz uma compra e paga em cinco vezes de R$ 100. Depois ela parcela uma roupa em três parcelas de R$ 50. A capacidade mensal que era de R$ 300 já está em R$ 150. Fica doente e precisa comprar remédios e divide em mais parcelas de R$ 100. Já comprometeu, ao todo, R$ 250 por mês. Chega no quarto mês, precisa comprar uma geladeira nova em prestações de R$ 200 e não tem mais dinheiro para pagar a prestação do cartão.

 

Qual é o limite do endividamento?

Robinson Trovó, da Trovó Academy, ensina a seus alunos que a regra básica para ter uma saúde financeira equilibrada é seguir a regra que chama de 20-70-10. Por essa regra, a pessoa só deve comprometer 20% do seu salário líquido para o pagamento de dívidas. Os outros 70% vão para os seus gastos gerais (aluguel, lazer, alimentação e afins). "Os restantes 10% devem ser usados para investir e construir sua independência financeira", afirma.

Para Fábio Barbalho, da Consultoria Ponto C, dividir em três parcelas é um limite menos perigoso. "Em 90 dias, tendemos a nos acostumar com a compra e até a começar a achar defeito no produto", diz. "Já não é mais a TV de última geração, a gente já acostuma com a nova geladeira, e passamos a querer outros produtos. Por isso não é uma boa ideia parcelar demais."

Para compras maiores que necessitem de financiamento, Trovó dá uma dica para saber o valor máximo a comprometer do orçamento:

Para financiar carro, multiplique por seis meses o valor do seu salário líquido. O total é o valor máximo que você pode financiar sem comprometer tanto o seu orçamento. Assim: se recebe R$ 2.000 líquidos, multiplique por seis meses. O resultado será R$ 12 mil. O financiamento máximo que ele sugere é de três anos.

Para financiar casa, multiplique por 36 meses o valor do seu salário líquido. Assim, se recebe R$ 2.000, o valor máximo a ser financiado é R$ 72 mil. Aqui, o financiamento máximo é de 10 anos.

"Obedecendo a esse limite, a pessoa dificilmente vai ultrapassar os 20% de endividamento. Não dá para a pessoa ganhar pouco e querer financiar carro, casa, comprar presente e viajar. Se ela quer fazer tudo isso, deve usar os 10% da renda para poupar e ir comprando à vista", diz Trovó.

 

O que nunca se deve parcelar?

Segundo José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil, valores muito baixos não deveriam ser parcelados. "Dividir valores de R$ 50, R$ 100, por exemplo: acaba ficando um monte de prestaçãozinha impossível de acompanhar", diz. "Fica fácil perder o controle."

Para Robinson Trovó, a principal dívida que o brasileiro nunca deveria fazer é com o carro. "É se endividar com algo que só perde valor ao longo dos anos", diz.

 

Como evitar o parcelamento?

A melhor maneira de evitar o parcelamento é poupar para comprar à vista. Assim, se sabe que terá um gasto de R$ 1.200 ao final do ano, poupe todo mês R$ 100 para pagar à vista. Também prefira comprar em lugares que oferecem desconto para esse pagamento.

 

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