Com uma queda expressiva de salário, o brasileiro chega ao final de 2016 temeroso com as perspectivas de futuro. Ninguém se arrisca a fazer um prognóstico de como será 2017. Economistas renomados afirmam que no ano que vem a economia continuará desaquecida e que o mercado de trabalho ainda vai demorar algum tempo para esboçar uma reação a altura das necessidades do país.

"Diante de perspectivas nada animadoras, é normal que com menos dinheiro no bolso as pessoas venham a gastar menos e isso acaba afetando a economia como um todo. Teremos um Natal mais magro que em anos anteriores. Mas, mesmo assim, vamos torcer e continuar trabalhando para promover uma reviravolta e fazer a roda da economia voltar a girar novamente em toda sua plenitude, produzindo salários mais robustos", diz Canindé Pegado, presidente do SINCAB.

O trabalhador brasileiro sofreu a maior queda de salários em termos reais entre os países do G-20 em 2016 e, em 2015, já esteve entre as três nacionalidades que mais perderam em todo o mundo.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 15, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), num levantamento publicado apenas a cada dois anos sobre o comportamento dos salários pelo mundo. De acordo com a entidade, a queda no salário real do brasileiro neste ano deve ser de 6,2%. Em 2015, a perda foi de 3,7%.

Desde 2012, os números da renda do brasileiro apresentavam um certo crescimento, ainda que abaixo da média mundial. Considerando inflação, o poder aquisitivo do brasileiro aumentou em 4% em 2012, 1,9% em 2013 e 2,7% em 2014.

Em termos nominais, a OIT usa dados do IBGE para mostrar que os valores foram de R$ 1,9 mil em média por mês em 2013, R$ 2 mil em 2014 e R$ 2,1 mil em 2015.

Já no ano passado, apenas a Rússia e Ucrânia haviam apresentado uma queda mais acentuada que a do Brasil em termos reais. Os dois países viviam ainda os ecos de um conflito armado e sanções. Mas, neste ano registraram estabilização nos salários.

No caso do trabalhador brasileiro, a crise se aprofundou ainda mais neste ano. "Os números que estamos vendo não são nada encorajadores", disse Deborah Greenfield, vice-diretora da OIT. Para a entidade, o cenário aponta para uma nova queda em 2017.

Segundo a representante da OIT, um dos impactos mais imediatos na queda dos salários no Brasil deve ser a redução do consumo na economia e, claro, na demanda agregada. "A desaceleração de renda tem um impacto muito grande em famílias e isso vai ser sentido em toda a economia", alertou. "Os ganhos dos últimos anos podem sofrer uma erosão", disse.

Na avaliação dos especialistas da OIT, os dados brasileiros sugerem que a recuperação do crescimento da economia poderá levar mais tempo que se imagina, diante da perda do poder aquisitivo da população durante pelo menos dois anos.

Patrick Belser, autor do informe, também destaca a queda "dramática" do salário no País. A recessão e a queda nos preços de commodities influenciaram. "A redução continuou em 2016 e a demanda agregada também vai sofrer", disse.

De acordo com a OIT, o resultado negativo do Brasil teve um impacto até mesmo na média salarial na América Latina, com a região registrando uma queda de 1,3% em 2015.

Nos grandes países emergentes, o que se viu foi uma desaceleração da expansão dos salários. Ainda assim, eles continuaram a aumentar. Em 2012, essas economias viam seus salários reais aumentar em 6,6%. Para 2015, a taxa foi de 2,5%.

Outro alerta da OIT se refere ao impacto na desigualdade social. "Estudos mostram que o aumento de salários ajuda a combater desigualdades", constatou Greenfield. "Não estamos vendo combate à desigualdade. Mas o contrário", alertou. Ainda que o Brasil tenha reduzido seus índices de injustiça social, com o aumento do salário mínimo, a OIT insiste que o País continua sendo um dos mais desiguais do mundo.

 

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